

Beleza?


Albano Afonso adianta esta pregunta do lugar da representação de uma selva idílica, proposta talvez como denúncia daquele ponto de origem, no qual não há retorno, ou de uma natureza recriada, artificial e manipulada pelo homem como no trabalho de Alberto Baraya, até chegar a intervenção direta da transformação tangível do território em ‘Cuando la fe mueve montañas’ de Francis Alÿs. A devastação de territórios, e sua definição geopolítica, é tomada por Santiago Sierra na forma de porcos devorando a península Helênica, mostrando a alienação e a exploração, a desigualdade e o problema da distribuição da riqueza, manifestando a natureza perversa do dinheiro, e a discriminação racial em um mundo em tempos de mudança, dominado por fluxos migratórios unidirecionais. Assim mesmo, como os porcos devoram a cartografia, Kader Attia oferece uma imagem distinta a desintegração contemporânea acerca do colapso de abstração no globo. Com ‘Oil & Sugar’, está ali a corrosão do mundo pelo combustível fóssil, responsável direto por guerras e invasões. Neste cenário a pergunta persiste: ‘está tudo bem?’ Matías Duville reage propondo a arte como uma força geradora, capaz de criar um planeta similar a este, supostamente diante de evidências da desaparição do próprio. O trabalho de Moris também reconhece o estado mutante dos territórios e das paisagens, sobretudo a nova paisagem urbana, produto das dinâmicas de obsolescência e desmando, impulsionada por um sistema econômico baseado na permanente produtividade. Se representa as culturas marginais dentro de um contexto de relações desiguais de poder e acesso, as mesmas como no caso cubano exposto por Carlos Garaicoa, que incorporam a cidade e sua decadência, contradições, memória, e a rua, como representação última da memória individual e coletiva. Numa medida de que nem tudo está bem, Cinthia Marcelle e Tiago Mata Machado elaboram o protesto como reação a estes processos, transformando o trabalho também em um tipo de paisagem e a necessidade de imaginação de novas estratégias políticas para romper o ponto morto da democracia atual. E Sandra Cinto discute por outro lado a necessidade de silêncio e pausa em uma sociedade cheia de ruídos e informação. O que está em jogo definitivamente é o tipo de objeto que define o estado atual das coisas, que tipo de objetos são os novos componentes desta paisagem, deste território, das cidades, da cultura. No trabalho de Darío Escobar, estes objetos são os novos símbolos da história e religião da Guatemala, aqueles que verdadeiramente dominam a cultura visual hoje em dia, objetos produzidos em massa, como skates, bolas de futebol, tacos de basebol, símbolos que se convertem em algo sagrado, ou dessacralizado. Estes novos territórios são o resultado de conflitos e de histórias, e da transformação de narrativas em objetos, que encarnam processos traumáticos nas pessoas, nas paisagens e nos países, como está posto no trabalho de Alonso e Palmarola, que resume essa observação em um sistema de pré-fabricação da construção civil, cujas trajetórias são parte integral da paisagem política do século 20, e que na obra de Patrick Hamilton materializam-se em um mecanismo de motor de trator, o horror das disputas políticas e ideológicas que uma e outra vez nos forçam a ensaiar a pergunta: Beleza?
Pamela Prado


Bios
Albano Afonso
Cria instalações e fotografias, nas quais mistura impressões fotográficas, esculturas com imagens projetadas no espaço. Por meio da luz e do movimento, um jogo de percepções desvelam imagens que exploram o espaço construído como parte ilusória da realidade. Entendendo a luz como elemento pictórico, configura diferentes perfis plásticos revisitando as referências clássicas desde outros pontos de vista, cria arquiteturas renovadas para uma mesma paisagem de luzes e sombras. Participou de diversas exposições, dentre as mais recentes estão as individuais: Self Portrait as Light, Contemporary Arts Center, Cincinnati, EUA e 21C Museum, Cincinnati, EUA (2015); Anatomia da Luz, Oi Futuro, Rio de Janeiro (2014); Amor Fati, Museu de Arte de Ribeirão Preto (2014). E as exposições coletivas: Sur Nouvelles Narratives, Château de Fernelmont, Bélgica (2014); Casa Triângulo 25 Anos, Pivô, São Paulo; Duplo Olhar - Coleção Sérgio Carvalho, Paço das Artes, São Paulo (2014); I Bienal Internacional de Fotografia do MASP- São Paulo (2013).
Pamela Prado (1976, Santiago, Chile).
É curadora. Graduada em Filosofia pela Universidade do Chile (2000), tem mestrado em Curadoria pelo Royal College of Art de Londres (2009). Entre as exposições que curou: Ocupa, 25 artistas y 1 curadora (Departamento José Miguel de la Barra, Santiago, 2011); TRAFFIC JAM #1 Sao Paulo (Groupe Intervention Vidéo - GIV - Montreal, Canadá, 2011); Micro-Utopias: Nicolás Sánchez y Jaime Vargas (Galeria Gabriela Mistral, Santiago, 2011); Wonderland: Actions and Paradoxes (Centro Cultural São Paulo, 2010); Office of Real Time Activity (Royal College of Art, Londres, 2009), entre outras. Organizou o seminário: El Nuevo Archivo. Documentando las artes visuales de Latino América (Royal College of Art, Londres, 2009). Também organizou publicações e entrevistas, em que se destacam o catálogo para a exposição Friends of the Divided Mind, Royal College of Art, Londres, 2009; e o livro Alfredo Jaar. Los ojos de Gutete Emerita (Santiago, Chile, 2010).
Patrick Hamilton (1974, Leuven, Bélgica).
Vive e trabalha em Madri. É graduado em Artes pela Universidade do Chile. Em 2007 recebeu a bolsa Guggenhein, Nova York. Seu trabalho tem sido exibido em numerosas exposições individuales e coletivas no Chile e no exterior. Sua mais recente individual Proyecto Lanz foi apresentada em FLORA Ars+Natura, Bogotá, Colômbia (2014). Algumas de suas mostras: Beyond the supersquare, The Bronx Museum of the Arts, Nova York (2014); Slow Future, Centre for Contemporary Art Ujazdowski Castle, Varsóvia (2014); Progreso, Museo de Arte Contemporáneo (MAC), Santiago (2013); Dirupted Nature, Museum of Latin American Art (MOLAA), Long Beach, CA, EUA (2013); Pabellón de la Urgencia, Bienal de Veneza (2013), Now: works from The Jumex collection, Centro Cultural Cabaña, Guadalajara, México (2011); Dublin Contemporary, Irlanda (2011), Bienal de Canárias, Espanha (2009), 10ª Bienal de Havana (2009 e 2003), Bienal de Praga (2005), e 26ª Bienal de São Paulo (2004), entre outras. Seu trabalho está presente em mais de cem coleções públicas e privadas, entre elas, Colección Jumex do México, El Museo del Barrio de Nova York, Museo Nacional de Bellas Artes de Santiago e o Museo DKM de Duisburg na Alemanha.
Pedro Alonso (1975, Santiago, Chile).
Arquiteto e Mestre em Arquitetura pela Pontificia Universidade Católica do Chile, e Doutor em Arquitetura pela The Architectural Association de Londres. Junto com Hugo Palmarola tem realizado exposições no Pratt Institute de Nova York, e na Architectural Association, e são autores dos livros Panel (AA Publications, 2014) e Monolith Controversies (Hatje Cantz, 2014), com o qual obteve o prêmio DAM Architectural Book Award 2014 do Deutsches Architekturmuseum (Museu Alemão de Arquitetura) na Feira do Livro de Frankfurt. Em 2014 curaram o pavilhão do Chile na 14a Bienal de Arquitetura de Veneza, tendo recibido o prêmio Leão de Prata. Alonso obteve bolsas de pesquisa do Royal Institute of British Architects (Londres, 2009); Getty Institute (Los Angeles, 2010), Prins Claus Foundation (Amsterdam, 2011) e foi pesquisador convidado do Canadian Center of Architecture (Montreal, 2012). Apresentou conferências em mas de 12 países, e tem publicado capítulos de livros de editoras como Routledge (2012) e The MIT Press (2014). É também autor do livro Deserta: ecología e industria en el Desierto de Atacama (ARQ, 2012). Alonso é professor associado da Pontificia Universidade Católica do Chile e professor visitante da The Architectural Association School of Architecture de Londres, Inglaterra.
Sandra Cinto.
Sandra Cinto desenvolveu um rico vocabulário de símbolos e linhas para criar paisagens líricas e narrativas entre fantasia e realidade. Usando o desenho como ponto de partida, a artista frequentemente dialoga com a arquitetura evocando paisagens fantásticas que servem como uma metáfora da odisséia humana e também estrapolando os limites e possibilidades do desenho. Desde os anos 1990, Sandra Cinto tem apresentado o seu trabalho em museus e instituições pelo mundo, realizou exposições individuais em: Matadero, Madri, Centro Atlantico de Arte Moderno, Las Palmas de Gran Canária, Fundación Luis Seoane, A Corunha, Espanha (2014); Seattle Art Museum’s Olympic Park Pavilion, Seattle, EUA (2012-2014); The Phillips Collection, Washington, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo (2010); entre outros. Sua obra está representada em coleções públicas nos Estados Unidos: Albright-Knox Art Gallery em Buffalo, NY, The Phillips Collection in Washington, D.C., Institute of Contemporary Art de Boston e Museum of Contemporary Art San Diego, Califórnia. Na Espanha: Centro Galego de Arte Contemporáneo de Santiago de Compostela, Fundación Pedro Barrié de la Maza/ Conde de Fenosa, A Corunha, e Fundación ARCO, Madri. No Brasil: Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães do Recife, Museu de Arte da Pampulha em Belo Horizonte, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro/ Coleção Gilberto Chateaubriand, e Pinacoteca do Estado de São Paulo, e outros. Atualmente desenvolve um projeto de obra pública na cidade de Nova York.




















